20/03/17

O processo - Franz Kafka

Decidi inserir nomes de grandes clássicos nas minhas leituras e nas resenhas do Blog e minha primeira experiência foi Franz Kafka e sua obra "O Processo", até por ter tudo a ver com minha profissão, já que aqui vos escreve a advogada, rs.

Este exemplar foi lançado em 1925, após um ano a morte de seu criador, por isso existem alguns trechos que foram riscados, mas sempre foi conhecido como um dos maiores romances do século XX. Embora o meu colega, no exercício de seu ofício, tenha frustrado profundamente com a vida jurídica, ele seguiu trabalhando em outros ramos.

O enredo nos apresenta Josef K um funcionário de alto escalão de um banco que no dia de seu aniversário descobre que está sendo processado, embora não saiba absolutamente de nada sobre tal fato, acreditando ser uma brincadeira de seus amigos. Com o passar do tempo, embora detido nosso protagonista tem a permissão de viver normalmente, devendo comparecer aos tribunais de forma esporádica quando requisitado ao telefone. Ocorre que, mesmo assim se sente muito angustiado por ser julgado por uma justiça corrupta, sem lógica e burocrática.

Nesse absurdo cenário kafkaniano nos perguntamos como um advogado,ou próprio acusado pode ser defendido, ou, defender-se desconhecendo o crime, seu acusador, testemunhas e todos os elementos do processo?

A trama é cheia de mistérios e foge todo o tempo da racionalidade e lógica, características dominantes da escrita de Kafka. Durante todo o sigiloso processo até para as partes, algumas pessoas do tribunal se manifestaram a favor de K., enquanto outros utilizavam da autoridade para cometer abusos e tolher direitos.

Kafka faz duras críticas ao sistema judicial da sua época, chamando atenção do leitor para uma visão social a respeito do totalitarismo e desprezo a personalidade humana. Podemos identificar na leitura alguns problemas ainda existente na atualidade, principalmente ao relacionado com a morosidade da justiça e condições de trabalho.

A obra oferece uma inesgotável fonte de análise, se por um lado, a leitura se mostra difícil em alguns momentos, as conversas longas e desfecho do problema, por outro tentar e torcer pela absolvição de Josef é maior que o emaranhado de palavras, como se fosse o réu.

Casou-me estranheza deparar com a vulnerabilidade de K. sem as prerrogativas hoje garantidas pela Constituição 88 (ampla defesa, contraditório e muitas outras) e talvez as inúmeras interpretações irão permanecer no tempo, mas uma coisa que se mostrou clara é que um processo altamente burocrático é impossível alcançar a justiça social.

A leitura dessa obra-prima nos causa uma inquietude com a situação do personagem e também uma reflexão sobre o contexto, sobretudo frente a sociedade e seu aparelho jurídico. 

Aproveitando a oportunidade, gostaria de apresentar a vocês um projeto literário de obras de grandes clássicos, conhecida como @pacotedetextos, para conhecer um pouquinho mais desse clube de assinaturas clique aqui

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