"Só os animais podem nos dizer o que é ser humano"
O livro traz uma
reunião de fábulas que retratam diversos animais em contextos de guerras, sejam
elas internas ou externas, mas na maioria deles trata-se da Segunda Guerra
Mundial, talvez porque tenha sido a "Grande Guerra", alguns
obviamente gostei mais que os outros, e quero detalhar minha experiência de
cada alguns deles para vocês.
A autora foi imensamente inteligente, ao decorrer da narrativa, o
leitor vai observando que os fatos vão ocorrendo conforme o jeito e a
velocidade de cada animal retratado, com a tartaruga foi mais lento, o golfinho
e o macaco foram altamente inteligentes, o do cachorro tem aquele toque de
aproximação e amor, resumindo cada qual com sua peculiaridade, todos tem no título
"alma e o nome do animal" isso porque vamos sofrer bastante com a morte
deles, até a data de óbito já está explicita no sumário, portanto preparem os
corações para muito chorôrô.
O primeiro conto
"Alma de camelo" é um pouco confuso, no grupo da leitura coletiva
tivemos muitas discussões bacanas a respeito da profundidade dele. Sinceramente
de todos, o pior, então nem posso falar muito dele pra vocês pois nem saberia o
que dizer, só sei que se passa no deserto e que critica o transporte desses
animais.
O da gata foi super fofo, nos traz a discussão sobre gênero e
sexualidade, assim como do tratamento diversificado que cada ser humano dá a um
animal. Personalidade, charme, nariz pra cima, mas também carinho (quando eles
bem querem kkkkk). A história gira em torno de uma gatinha esquecida no campo
de batalha e o relacionamento dela com outro gato que já vivia lá e com os
soldados, é bem divertido, mas bem triste também.
O do chimpanzé
como já contei é muito inteligente e perspicaz, um macaco que age como um
humano após ter sofrida diversas experiências! Todo mundo sabe o que animais e
judeus sofreram na Alemanha como cobaias, Peter Vermelho é culto, mas as coisas
não vão ser como ele imagina, na guerra tudo muda, inclusive o caráter e
sentimento das pessoas.
O "Alma de
cachorro" me fez raiva, poxa só porque é o animal que mais amo. Me fez
refletir sobre como um sentimento exagerado e submisso transforma as pessoas e
também os animais, em como a decepção machuca e como os humanos são ciumentos,
ignorantes e monstros. Não vou nem comentar muito para não cair no choro aqui
com vocês.
O mexilhão foi
muito legal, trata de ensinamentos, das asas da liberdade, do desbravamento do
mundo por amigos, a narrativa se passa entre três mexilhões que se tornam
amigos e vão sair por aí para descobrir novas coisas, foi bem interessante as
impressões passadas.
A tartaruga me fez
foi inveja, ser animal de estimação de Alexandra, filha de Liev Tolstoi,
Virginia Woolf, e George Orwell (Eric Blair), Bertrand Russel, quem não
sentiria inveja de partilhar momentos com essas personalidades? Já observaram
as incríveis referências que esses livros trazem, não é? A história dessa
tartaruguinha vai de elucidações literárias até cientificas, um dos melhores contos
com toda certeza.
O do elefante e do
urso são lindos, um traz a questão da matança á espécie e as tradições que são
passadas entre gerações, enquanto o outro traz literalmente um conto de fadas,
fazendo um intertexto com um fato que eu já conhecia, mas que foi incrível ver
ele de outra maneira bem mais lúdica.
O do golfinho é
triste de ler, agradeço a autora por trazer uma informação desconhecida: a
marinha matou milhares de golfinhos na Segunda Guerra, que angustiante não é
pessoal? Eles por serem muito inteligentes, eram treinados para recuperar
informações, mas logo depois foram ensinados a carregar bombas em seus focinhos
e instalarem em espiões submarinos, mas isso valia suas próprias vidas, o conto
é narrador por um golfinho mãe e sua filha, e trata-se do relacionamento
conturbado entre as duas e com seu treinador.
O do papagaio é o último
conto, mas não menos triste, a autora nos dá aquele gostinho de felicidade para
somente depois nos apedrejar, sofri muito com o final.
Ceridwen Dovey me
levou a um mundo que eu amo, o dos animais, logo eu que estou sempre em contato
com eles e sou apaixonada pelas manias, jeitinhos e carinhos de cada um deles,
senti muita falta do cavalo para ser sincera, ela trouxe animais peculiares
para a convivência humana e talvez até tenha sido sua intenção, mas por ser um
animal que convivo diariamente e que entende tão bem os anseios das pessoas
assim como seus sentimentos, senti bastante a falta dele no livro. Mas
simplesmente amei mesmo assim esse exemplar, cumpriu minhas expectativas e me
fez admirar a autora, assim como fez sentir vontade de ler nomes famosos que ainda
não conheço as obras.
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