Pode
conter spoilers da obra, resenha destinada aos vestibulandos!
A morte e a morte de Quincas Berro D'Água
primeiramente foi escrito no intuito de um conto para a revista Senhor, porém
com o tempo o gênero dessa obra foi denominada como uma novela. Não é preciso
dizer que as obras de Jorge Amado tem respaldo em todo o mundo, e essa não fica
de fora da fama, adaptada para minisséries, teatro, balés e até filmes, Quincas
sobrevive até hoje no riso dos leitores e na cachaça das ladeiras de Salvador.
Quincas
teve duas vidas, como Joaquim Soares da Cunha, ele era um homem de família bem
respeitado, exemplar funcionário, bom pai, "granfino", mas que vivia
em completa tristeza e suportando tudo quieto. Até que um dia, Joaquim não
aguenta mais viver essa vida de aparências, com uma mulher que aparentemente
era uma jararaca (nas suas próprias palavras) e sai de casa para nunca mais
voltar.
Surge
então Quincas Berro D'Água, um dos maiores vagabundos da Bahia, o maior
cachaceiro de Salvador, e provavelmente um dos homens mais felizes também,
nessa nova vida, ele não devia satisfações a sociedade, não se importava com o
que falavam sobre ele e muito menos se importava com as aparências que por
muito tempo desolavam sua felicidade.
E se
ele pôde ter duas vidas, porque não ter duas mortes, ou ainda, pelo menos para
minha interpretação, três mortes?
Para
mim, a primeira morte, foi a de Joaquim, a morte social de um homem infeliz, já
que sua família sempre inventava desculpas para o seu sumiço. A segunda morte,
ocorreu em um quarto imundo, Quincas foi encontrado já morto em sua cama numa
zona não tão valorizada de Salvador. Ao receber a notícia, sua filha Vanda
sentiu-se aliviada, agora ela poderia limpar o nome da família, e resolveu dar
pelo menos um digno enterro a ele. Contudo, enquanto Vanda nutria o sentimento
de alívio, uma parte da cidade caía em prantos diante da morte de um homem tão
amigo, companheiro, que ajudava a tantos quanto podia e que estava sempre a uma
mão de apoio.
Então,
seus melhores amigos, Pé-de-vento, Negro Pastinha, Curió e Cabo Martim
resolveram ir ao seu velório, e o contraste entre a família de Quincas e seus
amigos se torna claramente contrastante, ao serem deixados a sós, os amigos em
um delírio alcoólico dão de beber ao morto e o leva pra noite da cidade, nesse
momento, a gente fica sem saber se Quincas realmente está morto, pois existem
falas, gestos e atitudes que instigam a dúvida no leitor, e nos fazem perguntar
se tudo aquilo é real ou apenas uma alegre fantasia provocada pelo álcool.
Enfim,
chega a sua terceira morte, uma tempestade derruba seu corpo do barco em que
estavam, e ele tem o fim que sempre desejou, se fosse para morrer, que fosse no
mar, beijado pelas espumas das ondas e sentindo a paz que sempre quis para a
sua vida.
Em
poucas páginas, Jorge traz para o leitor toda a magia das noites de Salvador,
mais uma vez me sinto encantada por ler a Bahia em um livro dele, nessa obra
ele critica principalmente a estrutura clássica de família, a falsidade e a
vida regada por aparências, com uma linguagem fácil e cheia de gírias e locuções
baianas, ele conquista o leitor a cada linha.