Olá
pessoal, hoje trago a resenha de um livro clássico de nossa literatura, bem
fininho e hiper gostoso de ler, Menino de Engenho de José Lins do Rego está
dentro do movimento modernista regionalista e é o primeiro volume de uma saga
chamada O ciclo da cana-de-açúcar.
Com
tons autobiográficos, José Lins traz o personagem Carlinhos como narrador e
protagonista desse seu romance nordestino, mas o objetivo do livro é contar a
vida no engenho de seu avô José Paulino, já que o garoto se muda para lá logo
após seu pai assassinar sua mãe (feminicídio é algo antigo pessoal, que não
deveria nem existir mais), fato que provocará imensa tristeza em Carlinhos, mas
que aos poucos vai dando lugar a curiosidade diante de uma nova vida e de um
vasto engenho a ser explorado.
Esse
livro possui uma história bastante fluída, achei incrível a percepção do autor
para relacionar idade e narrativa do personagem, ao ler, percebi um
amadurecimento nos pensamentos, ações e análises de Carlinhos, críticas típicas
do modernismo também estão bem presentes e diversos fatos sobressaem na
história: como a chegada dos cangaceiros na fazenda, os carinhos de sua tia
Maria em substituição dos da mãe, a seca e posteriormente as enchentes, o
início da crise do açúcar, Carlinhos aprende como funciona a relação do Senhor
de engenho com seus subordinados, a presença de ex escravos nas fazendas que
não tinham para onde ir e que por isso continuavam no trabalho, além da
afetividade desses com seus "empregadores", as histórias contadas por
eles sobre a vinda para o Brasil, a precocidade sexual dos meninos e o
diferente tratamento desse mesmo assunto entre homens e mulheres. Tudo isso é
contado com base em sentimentos memorialistas, trazendo uma simplicidade, mesmo
sobre questões tão complexas, vistas pelos olhos de uma criança que inicia com
4 e termina o livro com 12 anos.
Livre
de moldes estéticos, o que era típico do modernismo, em Menino de engenho, o
autor tem uma visão muito positiva sobre algumas questões que para mim são
bastante complicadas, diante do pós escravidão, a relação entre negros e
brancos é tratada no livro como se fosse de ganho para os dois lados, e nós
sabemos que não foi bem assim, acredito que por se tratar de seu avô, o autor
pode ter uma visão parcial sobre o tópico, é perceptível o tratamento
diferencial por parte do Senhor de engenho sobre um mesmo fato praticado por
seu filho e por um negro que chega a ir para o tronco sem ter feito nada do lhe
era acusado. Problemas sociais como a invisibilidade de situações que estão tão
aparentes são encontrados até hoje em nossa sociedade, assim Menino de engenho
constitui-se uma mímeses da vida, com memórias infanto-regionalistas que nos
fazem não só sentar para ler um bom livro, mas para refletir sobre dilemas tão
antigos e tão atuais ao mesmo tempo.
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