Desvastador, real e poético!
Vivemos tempos difíceis, talvez seja uma das maiores verdades
da vida no presente momento. Sofremos uma enxurrada de notícias de
intolerância, agressividade e falta de amor ao próximo.
A dor sobrepõe a arte para desta forma tocar o coração dos
homens e o retrato deste livro tão bem escrito pode ser incrementado pelo fato
histórico a que deu caso.
A foto do menininho de três anos, Alan Kurdi, que morreu na
praia, sendo o reflexo da desesperança da falta de empatia. No ano seguinte a
sua morte, mais de 4 mil pessoas morreram tentando fazer a mesma travessia, mas
nada tocou tanto a dureza dos olhares quanto a supressão dos sonhos e de uma
história.
Numa edição primorosa de capa dura, ilustrações fantásticas o
escritor toca a alma do leitor com uma história incrível e de uma filosofia
profunda.
Khaled Hosseini, retrata as memórias de um pai refugiado
durante um tempo em que não há guerra e todas as suas boas lembranças vividas
apresentando ao seu filho a leveza da vida. “Quem dera você lembrasse das ruas
lotadas cheirando a quibe frito, das caminhadas noturnas que fazíamos com sua
mãe em volta da Praça da Torre do Relógio”.
Contrapondo as boas memórias ele lembra ainda quando tudo
começou a dar errado “ primeiro vieram os protestos, depois o cerco. Os céus
cuspiam bombas. Fomes.Enterros”, a única realidade vivida por sua prole.
É duro e chocante acompanhar os relatos dos acontecimentos a
partir de então, e a pior dor é reconhecer o esforço que o pai faz para que a
situação pareça normal ao camuflar um pouco de magia “você sabe que a cratera
de uma bomba pode virar uma piscininha”, tudo muito perturbador!
Além dos problemas suportados no lugar de origem, outros se
apresentam como a indiferença e a tolerância “ ouvir dizer que somos
indesejados” , das incertezas que o acompanham a tentar um terra desconhecida.
O final da história é o próprio quadro da realidade, num
lugar devastado pela guerra e a fome, a única saída é a fuga, mas essa passagem
é tão incerta quanto ao terror que se vive.
Os nossos protagonistas terão que fazer a travessia para o mar e a única coisa que lhes restam é a fé e esperança de dias melhores "rezar para que Deus conduza bem o barco, quando a costa se perder de vista".
Um convite para o desenvolvimento da empatia e amor ao próximo sem máscaras nem maquiagens, a verdade nua e crua. Muitos se perderam pelas ondas revoltadas e talvez seja mais preciso muito mais que a arte para mudar essa realidade, mas acredito que estamos no caminho certo.
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