16/10/17

16/10/17

Só os animais salvam - Ceridwen Dovey

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"Só os animais podem nos dizer o que é ser humano"

O livro traz uma reunião de fábulas que retratam diversos animais em contextos de guerras, sejam elas internas ou externas, mas na maioria deles trata-se da Segunda Guerra Mundial, talvez porque tenha sido a "Grande Guerra", alguns obviamente gostei mais que os outros, e quero detalhar minha experiência de cada alguns deles para vocês.

A autora foi imensamente inteligente, ao decorrer da narrativa, o leitor vai observando que os fatos vão ocorrendo conforme o jeito e a velocidade de cada animal retratado, com a tartaruga foi mais lento, o golfinho e o macaco foram altamente inteligentes, o do cachorro tem aquele toque de aproximação e amor, resumindo cada qual com sua peculiaridade, todos tem no título "alma e o nome do animal" isso porque vamos sofrer bastante com a morte deles, até a data de óbito já está explicita no sumário, portanto preparem os corações para muito chorôrô.

O primeiro conto "Alma de camelo" é um pouco confuso, no grupo da leitura coletiva tivemos muitas discussões bacanas a respeito da profundidade dele. Sinceramente de todos, o pior, então nem posso falar muito dele pra vocês pois nem saberia o que dizer, só sei que se passa no deserto e que critica o transporte desses animais.

O da gata foi super fofo, nos traz a discussão sobre gênero e sexualidade, assim como do tratamento diversificado que cada ser humano dá a um animal. Personalidade, charme, nariz pra cima, mas também carinho (quando eles bem querem kkkkk). A história gira em torno de uma gatinha esquecida no campo de batalha e o relacionamento dela com outro gato que já vivia lá e com os soldados, é bem divertido, mas bem triste também.

O do chimpanzé como já contei é muito inteligente e perspicaz, um macaco que age como um humano após ter sofrida diversas experiências! Todo mundo sabe o que animais e judeus sofreram na Alemanha como cobaias, Peter Vermelho é culto, mas as coisas não vão ser como ele imagina, na guerra tudo muda, inclusive o caráter e sentimento das pessoas.

O "Alma de cachorro" me fez raiva, poxa só porque é o animal que mais amo. Me fez refletir sobre como um sentimento exagerado e submisso transforma as pessoas e também os animais, em como a decepção machuca e como os humanos são ciumentos, ignorantes e monstros. Não vou nem comentar muito para não cair no choro aqui com vocês.

O mexilhão foi muito legal, trata de ensinamentos, das asas da liberdade, do desbravamento do mundo por amigos, a narrativa se passa entre três mexilhões que se tornam amigos e vão sair por aí para descobrir novas coisas, foi bem interessante as impressões passadas.

A tartaruga me fez foi inveja, ser animal de estimação de Alexandra, filha de Liev Tolstoi, Virginia Woolf, e George Orwell (Eric Blair), Bertrand Russel, quem não sentiria inveja de partilhar momentos com essas personalidades? Já observaram as incríveis referências que esses livros trazem, não é? A história dessa tartaruguinha vai de elucidações literárias até cientificas, um dos melhores contos com toda certeza.

O do elefante e do urso são lindos, um traz a questão da matança á espécie e as tradições que são passadas entre gerações, enquanto o outro traz literalmente um conto de fadas, fazendo um intertexto com um fato que eu já conhecia, mas que foi incrível ver ele de outra maneira bem mais lúdica.

O do golfinho é triste de ler, agradeço a autora por trazer uma informação desconhecida: a marinha matou milhares de golfinhos na Segunda Guerra, que angustiante não é pessoal? Eles por serem muito inteligentes, eram treinados para recuperar informações, mas logo depois foram ensinados a carregar bombas em seus focinhos e instalarem em espiões submarinos, mas isso valia suas próprias vidas, o conto é narrador por um golfinho mãe e sua filha, e trata-se do relacionamento conturbado entre as duas e com seu treinador.

O do papagaio é o último conto, mas não menos triste, a autora nos dá aquele gostinho de felicidade para somente depois nos apedrejar, sofri muito com o final.

Ceridwen Dovey me levou a um mundo que eu amo, o dos animais, logo eu que estou sempre em contato com eles e sou apaixonada pelas manias, jeitinhos e carinhos de cada um deles, senti muita falta do cavalo para ser sincera, ela trouxe animais peculiares para a convivência humana e talvez até tenha sido sua intenção, mas por ser um animal que convivo diariamente e que entende tão bem os anseios das pessoas assim como seus sentimentos, senti bastante a falta dele no livro. Mas simplesmente amei mesmo assim esse exemplar, cumpriu minhas expectativas e me fez admirar a autora, assim como fez sentir vontade de ler nomes famosos que ainda não conheço as obras.

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