05/09/19

05/09/19

A memória do Mar - Khaled Hosseini

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Desvastador, real e poético!

Vivemos tempos difíceis, talvez seja uma das maiores verdades da vida no presente momento. Sofremos uma enxurrada de notícias de intolerância, agressividade e falta de amor ao próximo.

A dor sobrepõe a arte para desta forma tocar o coração dos homens e o retrato deste livro tão bem escrito pode ser incrementado pelo fato histórico a que deu caso.

A foto do menininho de três anos, Alan Kurdi, que morreu na praia, sendo o reflexo da desesperança da falta de empatia. No ano seguinte a sua morte, mais de 4 mil pessoas morreram tentando fazer a mesma travessia, mas nada tocou tanto a dureza dos olhares quanto a supressão dos sonhos e de uma história.

Numa edição primorosa de capa dura, ilustrações fantásticas o escritor toca a alma do leitor com uma história incrível e de uma filosofia profunda.

Khaled Hosseini, retrata as memórias de um pai refugiado durante um tempo em que não há guerra e todas as suas boas lembranças vividas apresentando ao seu filho a leveza da vida. “Quem dera você lembrasse das ruas lotadas cheirando a quibe frito, das caminhadas noturnas que fazíamos com sua mãe em volta da Praça da Torre do Relógio”.

Contrapondo as boas memórias ele lembra ainda quando tudo começou a dar errado “ primeiro vieram os protestos, depois o cerco. Os céus cuspiam bombas. Fomes.Enterros”, a única realidade vivida por sua prole.

É duro e chocante acompanhar os relatos dos acontecimentos a partir de então, e a pior dor é reconhecer o esforço que o pai faz para que a situação pareça normal ao camuflar um pouco de magia “você sabe que a cratera de uma bomba pode virar uma piscininha”, tudo muito perturbador!

Além dos problemas suportados no lugar de origem, outros se apresentam como a indiferença e a tolerância “ ouvir dizer que somos indesejados” , das incertezas que o acompanham a tentar um terra desconhecida.

O final da história é o próprio quadro da realidade, num lugar devastado pela guerra e a fome, a única saída é a fuga, mas essa passagem é tão incerta quanto ao terror que se vive.

Os nossos protagonistas terão que fazer a travessia para o mar e a única coisa que lhes restam é a fé e esperança de dias melhores "rezar para que Deus conduza bem o barco, quando a costa se perder de vista".

Um convite para o desenvolvimento da empatia e amor ao próximo sem máscaras nem maquiagens, a verdade nua e crua. Muitos se perderam pelas ondas revoltadas e talvez seja mais preciso muito mais que a arte para mudar essa realidade, mas acredito que estamos no caminho certo. 

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